Há muito para escalpelizar sobre os resultados das eleições. Há certamente muitas opiniões, umas mais razoáveis do que outras (sempre com a subjetividade do que é isto da razoabilidade), umas mais emotivas que outras, umas mais de direita e outras mais de esquerda. Há uma opinião que coloca muito bem o dedo na ferida: a do Sérgio Sousa Pinto (com quem nem sequer simpatizo, até porque pertence ao "sistema").
Uma das coisas que mais me tem custado engolir é o ataque cerrado que muita gente tem feito ao Alentejo. Começou por ser a primeira surpresa dos resultados de domingo, até porque pela sua dimensão começou a ter os primeiros resultados finais, mas como os resultados demonstram, está longe de ser caso único.
Não gosto de justificar o injustificável, mas a verdade é que o Alentejo tem sido totalmente abandonado e esquecido pelo poder político. E não é de agora. Por exemplo, só há duas capitais de distrito que não têm ligação a auto-estradas: ambas no Alentejo. Acontecendo provavelmente noutros distritos, no de Portalegre é preciso esperar um dia inteiro para ter transporte público para a capital de distrito. Ainda neste âmbito podemos facilmente continuar com exemplos, e tenho ainda um outro muito próximo (física e emocionalmente falando): à conta das pedreiras, qualquer dia arriscamo-nos a que terras como Bencatel ou Vila Viçosa sejam praticamente ilhas.
Mas há muito mais, se formos a outras áreas: o que dizer das condições de alguns hospitais que temos no Alentejo? E esqueçam os problemas relacionados com o Covid, pois a ausência de especialidades, por exemplo, é um problema bem anterior à pandemia. Até o hospital de Évora, que tem um serviço de neonatologia de excelência, se vê permanentemente na possibilidade de o ter de encerrar?
Este tipo de razões não pode servir para justificar tudo, mas tem que servir pelo menos para refletir. Mas deixem-se de apelos a moralismos como aquele que já hoje vi algures escrito de que a responsabilidade tem de ser também de cada um de nós, nas pequenas coisas que fazemos, para conduzir a uma mudança. É muito fácil ser Malato, é o que é...
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