sábado, janeiro 30, 2021

Recordações da meninice...

Numa publicação recente no seu facebook, uma colega minha relembrou algumas pessoas da Escola de Santa Clara e trouxe à memória a história do fantasma da Irmã Maria Ludovina Carmo, que passeava pela escola com o objetivo de impedir as pessoas de saltar os claustros. Conversa puxa conversa, relembrámos um par de histórias e de pessoas, e a certa altura ela referiu que se lembrava de mim como o "menino mais brilhante e educado da escola". Tal como lhe respondi, a questão do "brilhante" é sempre relativa, até porque sempre tive turmas com excelentes colegas (entre o 5º e o 9º ano, altura em que frequentei a escola, ainda era muito comum). Mais do que a referência ao brilhante, confesso que fiquei muito mais satisfeito pela referência à educação. Aliás, respondi imediatamente desta forma: "Fico contente por ser esta uma das recordações que ficaram, que certamente deixará orgulhosos os meus pais". Há legados que nos deixam que são, de facto, essenciais para toda a nossa vida!

terça-feira, janeiro 26, 2021

Dos resultados eleitorais

Há muito para escalpelizar sobre os resultados das eleições. Há certamente muitas opiniões, umas mais razoáveis do que outras (sempre com a subjetividade do que é isto da razoabilidade), umas mais emotivas que outras, umas mais de direita e outras mais de esquerda. Há uma opinião que coloca muito bem o dedo na ferida: a do Sérgio Sousa Pinto (com quem nem sequer simpatizo, até porque pertence ao "sistema").

Uma das coisas que mais me tem custado engolir é o ataque cerrado que muita gente tem feito ao Alentejo. Começou por ser a primeira surpresa dos resultados de domingo, até porque pela sua dimensão começou a ter os primeiros resultados finais, mas como os resultados demonstram, está longe de ser caso único.

Não gosto de justificar o injustificável, mas a verdade é que o Alentejo tem sido totalmente abandonado e esquecido pelo poder político. E não é de agora. Por exemplo, só há duas capitais de distrito que não têm ligação a auto-estradas: ambas no Alentejo. Acontecendo provavelmente noutros distritos, no de Portalegre é preciso esperar um dia inteiro para ter transporte público para a capital de distrito. Ainda neste âmbito podemos facilmente continuar com exemplos, e tenho ainda um outro muito próximo (física e emocionalmente falando): à conta das pedreiras, qualquer dia arriscamo-nos a que terras como Bencatel ou Vila Viçosa sejam praticamente ilhas.

Mas há muito mais, se formos a outras áreas: o que dizer das condições de alguns hospitais que temos no Alentejo? E esqueçam os problemas relacionados com o Covid, pois a ausência de especialidades, por exemplo, é um problema bem anterior à pandemia. Até o hospital de Évora, que tem um serviço de neonatologia de excelência, se vê permanentemente na possibilidade de o ter de encerrar?

Este tipo de razões não pode servir para justificar tudo, mas tem que servir pelo menos para refletir. Mas deixem-se de apelos a moralismos como aquele que já hoje vi algures escrito de que a responsabilidade tem de ser também de cada um de nós, nas pequenas coisas que fazemos, para conduzir a uma mudança. É muito fácil ser Malato, é o que é...

domingo, janeiro 24, 2021

As eleições de hoje e o "Triunfo dos Porcos"...

Há alguns anos li o livro 1984, uma obra de George Orwell, do final da primeira metade do século XX. É um livro assustadoramente genial, tal a semelhança que apresenta com muitas coisas da vida que vivemos atualmente. É um livro que aconselho vivamente a ler, tendo inclusivamente oferecido um exemplar ao meu afilhado.

Depois de ter lido 1984, fiquei muito curioso sobre outro livro do mesmo autor: "O Triunfo dos Porcos". Na altura procurei pelo mesmo, mas não havia nenhuma edição à venda em Portugal. Na realidade, era esse livro que eu procurava para o Miguel, mas continuava sem estar disponível. Daí a escolha ter recaído no 1984.

Quis o destino que poucos dias depois de iniciar o ano de 2021, tenha visto uma notícia da reedição do livro. Adquiri-o de imediato, ainda em estado de pré-venda, e recebi-o em casa no dia 14 de janeiro. Durante alguns dias esteve em cima da minha mesa e tive a oportunidade de ler pouco mais de uma dezena de páginas no fim-de-semana passado. Hoje li o resto.

"O Triunfo dos Porcos" é mais um livro genial, uma crítica cerrada ao sistema político soviético e ao choque claro entre os "bonitos ideias" políticos e a "feia realidade" da sua implementação. Mas vai muito além disso: mostra como um conjunto de animais (cidadãos) se deixa manipular pelos porcos (líderes políticos), muito por causa da sua falta de reação, fundamentalmente por não terem capacidade argumentativa, por serem seguidistas e por terem uma enorme falta de literacia.

Conhecendo a vida (e obra) de Orwell, a História e o contexto em que o livro é escrito, é possível claramente identificar no livro um ataque frontal à extrema esquerda política. Mas é extensível a qualquer regime totalitário/extremista em que os slogans, o aproveitamento político, o aproveitamento das massas (e da sua iliteracia) conduzem a resultados semelhantes.

À luz do que vivemos atualmente um pouco por todo o mundo, e que em Portugal não é exceção, este livro devia ser de leitura obrigatória. As instituições e as pessoas são mortas pelo seguidismo. As sociedades vão morrendo aos poucos porque este seguidismo é resultado da apatia e da falta de cultura das pessoas. E de existirem indivíduos que se aproveitam das fragilidades das pessoas, ancoradas nessas características, para se armarem em líderes das massas. E serem os porcos da sua quinta...

Hoje é dia de eleições em Portugal. E temos todos os problemas do "Triunfo dos Porcos" à tona. Uma sociedade órfã de gente séria para guiar o país para um rumo que não seja o seu próprio interesse. Uma sociedade apática, ou porque a vida que tem é uma inevitabilidade, ou porque tudo está à distância de um clique. Um conjunto de (supostos) líderes que têm seguidores acérrimos, que puxam pelos extremos que mais lhes são relevantes: do baton vermelho à xenofobia; da má gestão da pandemia, ao calculismo pessoal (mais acentuado numa altura em que não é possível distribuir afetos); do feminismo ao liberalismo. Seis atitudes de seis candidatos. O sétimo, com todo o respeito, representa o estado da sociedade atual que se parece às pedras da calçada... 

Estamos a horas de saber os resultados eleitorais. Prevejo um resultado que vem abanar a sociedade, para pior. Espero que possa ser conjuntural (afinal de contas, o Tino de Rans não tem o peso que lhe deram nas últimas eleições) mas temo que seja mais estrutural, porque as redes sociais estão repletas de gente acéfala... Mas como tudo tem um lado positivo, ao menos fizeram-me reativar o blog. Até porque uma conversa destas pelas bandas do facebook seria pior do que um sermão de Santo António aos peixes...


quarta-feira, janeiro 20, 2021

Saudades do futebol dos miúdos... (e saudades do Dogus, que morreu faz hoje 7 anos)

Vai para 7 anos que acompanho futebol jovem. O Rui começou a jogar em 2014, a Ana em 2017, a Sara em 2018. O João já fez dois treinos esta época. Já acompanhei os miúdos a centenas largas de treinos. Por exemplo, na época 2019/2020, entre setembro e março (quando confinámos por completo) só a Ana já tinha mais de 100 treinos, entre os dois escalões em que jogava e a seleção. Já os acompanhei também a centenas de jogos. Já vi o Rui marcar de todas as maneiras e feitios. Já vi a Ana marcar golos e defender muitos. Já vi a Sara marcar e ficar sem saber o que fazer.

Entre março e maio de 2020 parámos por completo. A partir de maio voltámos ao campo, primeiro só nós e com o início da época em contexto de treino. Mais abaixo podem ver um vídeo de cada um deles, em contextos diferentes, mas que não matam as saudades da competição. Só que a competição é diferente... Deixo-vos uma foto deliciosa da Sara, assim como o texto que na altura deixei no Facebook. Esta foto chegou a ser partilhada pela Mónica Jorge, da FPF.

O futebol faz parte das nossas vidas, faz-nos falta, ainda que nos ocupe muito tempo. Mas qualquer um dos miúdos gosta, à sua maneira. O Rui adora treinar e jogar, apesar de ficar muitas vezes frustrado quando as coisas não lhe correm bem. A Ana trabalha que nem um monstro, é uma guarda-redes de mão cheia, fruto do seu trabalho! A Sara adora estar com os amigos e vê o futebol da sua forma pura: como uma diversão!

As saudades apertam, mas sabemos que vamos voltar. Com o mesmo gosto, com a mesma paixão, havemos de voltar a jogar normalmente.


"Adoro esta foto. Também porque é a minha filha, claro. Mas porque é muito mais do que isso. Porque mostra uma menina de 4 anos, que joga futebol há mais de um ano, que adora o que faz, mas que ilustra tudo aquilo que deveria ser o futebol: a simplicidade, a alegria, e o estar ali por aquilo que o futebol é: um desporto que tanto gosta. Semana após semana, esta menina vais aos treinos, quer faça sol, quer esteja calor, quer esteja frio. Brinca muito, é certo (faz parte dos 4 anos). Cansa-se depressa, pois claro (faz parte dos 4 anos). Distrai-se quando eu chego ou passo ao pé dela nos treinos (faz parte dos 4 anos). Faz birra porque tem um "feitiozinho da m#$%a" e fica parada no meio do campo zangada comigo (faz parte dos 4 anos). Mas é de uma genuinidade que arrepia... É que é impossível correr desta forma se não gostar do que faz!"









domingo, janeiro 17, 2021

Bicicleta aos trinta e muitos

Temos a noção de que começamos a ficar velhos quando temos muitas recordações. Não, não me estou a lamentar! Até porque é coisa que não me preocupa muito, a idade, mesmo estando a chegar aos 40 (e já falta menos de meio ano...).

Faz hoje exatamente 9 anos que entreguei a minha tese de doutoramento. Sabia que tinha sido por estes dias, não tinha noção do dia exato. Apercebi-me quando folheei o livro há um par de dias. Mas lembro-me desse dia. Lembro-me do momento em que deixei nos serviços e lembro-me de ter ido para casa e de ter pensado: "E agora? O que faço?". Depois de 1340 dias, é uma pressão que sai dos ombros, mas é um vazio que fica. O mesmo vazio que senti sempre que entreguei cada um dos meus livros e que só não acontece nos outros trabalhos, porque esses já são feitos em "modo de perseguição", sempre com outros atrás.

O bom da vida, é que mesmo quase chegando aos 40 anos podemos sempre fazer coisas novas. O ano de 2020, que nos trouxe tanta coisa nova, trouxe-me também a prática de duas novas atividades físicas: o padel e a bicicleta. Já em tempos tinha experimentado o ténis. O padel tem muita coisa semelhante, mas é, simultaneamente, mais desafiante. Não substitui o meu gosto por jogar futebol (ou futsal) mas pelo número de participantes torna-se mais fácil arranjar pessoal.

A bicicleta, essa, já é diferente. Ainda antes de aparecer o Covid, o Rui e a Ana começaram a andar de bicicleta. Com o confinamento aventurei-me. E depois de algum tempo em que andava na bicicleta do Rui, com o desconfinamento acabei por comprar uma para mim. Em boa hora o fiz.

Andar de bicicleta faz-me bem. Já fiz uns quantos quilómetros com os pequenos (mais com o Rui, que tem mais resistência que a Ana) mas também já fiz muitos sozinho. A bicicleta tem-me permitido manter a forma e manter o peso que que trago desde meio do confinamento. A maior jornada que tive foi acompanhada do Rui, no verão, quando fizemos Évora-Arraiolos-Évora no mesmo dia. Com paragens para lá e para cá, além de uma paragem para almoço (quando ainda o podíamos fazer...). Depois dessa, segue-se a maior viagem a solo que fiz: 19,8km, já este mês.

Hoje decidi subir o Alto de São Bento, onde não tinha ido ainda de bicicleta. Fui com o Rui e a Ana, que fez a parte final da subida a pé ao lado da sua bicicleta. Depois voltámos. Tinha que ir ao Alto dos Cucos, levei novamente a bicicleta e decidi regressar à subida do Alto de São Bento. Já não consegui ir até ao topo mas fiquei quase. E regressei a casa (vejam o passeio aqui: https://www.relive.cc/view/v1vjAoEk3Yq).

Mas porque isso agora? Porque além da saúde há um outro objetivo solidário. Nos últimos anos tenho organizado uma festa de Natal na minha escola. Este Natal não foi possível, por motivos óbvios (podem ver o best of das edições anteriores aqui: https://www.facebook.com/events/143501173904834/). O Christmas in ESAE tem um cariz solidário, de angariação de bens. Como este ano não podia haver, decidi voluntariar-me para fazer Elvas-Portalegre de bicicleta, arranjando patrocínios para o efeito, em géneros alimentares. E ando a preparar-me para isso, quando a situação pandémica o permitir. E o passeio de hoje serve para a preparação do início dessa etapa, pois logo à saída de Elvas tenho a subida até ao Forte da Graça. Como eu tenho dito, se não "morrer" até ao Forte, certamente consigo fazer o resto. Ou não, dependendo do estado em que ficarem as pernas depois da subida...

O que me havia de dar (quase) aos 40...

sábado, janeiro 16, 2021

Vou ressuscitar o dogus-the-dog...

 Vou recuperar o blog. Este espaço (semi)privado em que dizia disparates, em que me respondiam com (mais) disparates e em que todos nos ríamos e reuníamos à distância. No último post, há mais de cinco anos, referia-me a dois motivos principais: o facebook, que permitia um contacto diferente, e o aumento do trabalho.

Atualmente continua a existir facebook, e o trabalho não só não diminuiu como cresceu, com o aumento das responsabilidades profissionais. Mas estou cansado. Estou cansado do facebook atual, em que se vomita ódio e em que nem se pode fazer uma piada que não haja meia dúzia de malucos atirar-se às pessoas. Não se pode ter uma opinião racional, mais ou menos argumentada, que vêm os arautos da liberdade, os arautos da supremacia, os super-informados em tudo. Toda a gente sabe de tudo: de Covid, de vacinação, de política, de futebol, de tudo o que nos rodeia. Pior: não só sabem de tudo, como têm razão em tudo.

Nesse post a que me referia, dizia que talvez um dia o paradigma mudasse e eu voltasse. E voltei! Mas voltei não só por causa do que disse no facebook mas também porque ontem mostrei aos meus filhotes a minha coleção de livros escritos com títulos pouco ortodoxos. Onde, claro, está o livro do cão. Abri, li algumas passagens, recordei algumas coisas. Recordei que o blog nasceu antes do Miguel (e desde essa altura nasceram 9 crianças na família). Recordei que o blog, nos primeiros meses de existência, passou por uma campanha presidencial (como a que temos agora). Recordei a neve de 2006 (como aquela que tivemos recentemente). Recordei o aparecimento do Miguel, do Rui, do Pedro e da Ana (não, agora não está ninguém para aparecer, a menos que não se saiba). Recordei a viagem à Grécia com a Carlita (também não vamos regressar à Grécia). Recordei muitos bons momentos...

Está na altura de voltar ao ativo. Conto com todos os seguidores do cão para continuarmos os disparates...