domingo, janeiro 24, 2021

As eleições de hoje e o "Triunfo dos Porcos"...

Há alguns anos li o livro 1984, uma obra de George Orwell, do final da primeira metade do século XX. É um livro assustadoramente genial, tal a semelhança que apresenta com muitas coisas da vida que vivemos atualmente. É um livro que aconselho vivamente a ler, tendo inclusivamente oferecido um exemplar ao meu afilhado.

Depois de ter lido 1984, fiquei muito curioso sobre outro livro do mesmo autor: "O Triunfo dos Porcos". Na altura procurei pelo mesmo, mas não havia nenhuma edição à venda em Portugal. Na realidade, era esse livro que eu procurava para o Miguel, mas continuava sem estar disponível. Daí a escolha ter recaído no 1984.

Quis o destino que poucos dias depois de iniciar o ano de 2021, tenha visto uma notícia da reedição do livro. Adquiri-o de imediato, ainda em estado de pré-venda, e recebi-o em casa no dia 14 de janeiro. Durante alguns dias esteve em cima da minha mesa e tive a oportunidade de ler pouco mais de uma dezena de páginas no fim-de-semana passado. Hoje li o resto.

"O Triunfo dos Porcos" é mais um livro genial, uma crítica cerrada ao sistema político soviético e ao choque claro entre os "bonitos ideias" políticos e a "feia realidade" da sua implementação. Mas vai muito além disso: mostra como um conjunto de animais (cidadãos) se deixa manipular pelos porcos (líderes políticos), muito por causa da sua falta de reação, fundamentalmente por não terem capacidade argumentativa, por serem seguidistas e por terem uma enorme falta de literacia.

Conhecendo a vida (e obra) de Orwell, a História e o contexto em que o livro é escrito, é possível claramente identificar no livro um ataque frontal à extrema esquerda política. Mas é extensível a qualquer regime totalitário/extremista em que os slogans, o aproveitamento político, o aproveitamento das massas (e da sua iliteracia) conduzem a resultados semelhantes.

À luz do que vivemos atualmente um pouco por todo o mundo, e que em Portugal não é exceção, este livro devia ser de leitura obrigatória. As instituições e as pessoas são mortas pelo seguidismo. As sociedades vão morrendo aos poucos porque este seguidismo é resultado da apatia e da falta de cultura das pessoas. E de existirem indivíduos que se aproveitam das fragilidades das pessoas, ancoradas nessas características, para se armarem em líderes das massas. E serem os porcos da sua quinta...

Hoje é dia de eleições em Portugal. E temos todos os problemas do "Triunfo dos Porcos" à tona. Uma sociedade órfã de gente séria para guiar o país para um rumo que não seja o seu próprio interesse. Uma sociedade apática, ou porque a vida que tem é uma inevitabilidade, ou porque tudo está à distância de um clique. Um conjunto de (supostos) líderes que têm seguidores acérrimos, que puxam pelos extremos que mais lhes são relevantes: do baton vermelho à xenofobia; da má gestão da pandemia, ao calculismo pessoal (mais acentuado numa altura em que não é possível distribuir afetos); do feminismo ao liberalismo. Seis atitudes de seis candidatos. O sétimo, com todo o respeito, representa o estado da sociedade atual que se parece às pedras da calçada... 

Estamos a horas de saber os resultados eleitorais. Prevejo um resultado que vem abanar a sociedade, para pior. Espero que possa ser conjuntural (afinal de contas, o Tino de Rans não tem o peso que lhe deram nas últimas eleições) mas temo que seja mais estrutural, porque as redes sociais estão repletas de gente acéfala... Mas como tudo tem um lado positivo, ao menos fizeram-me reativar o blog. Até porque uma conversa destas pelas bandas do facebook seria pior do que um sermão de Santo António aos peixes...


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